Uma das coisas que mais me incomodam na nossa “moderna sociedade” (hum, moderna sociedade, gostei) diz respeito à banalização de certos valores e sentimentos que não poderiam perder o sentido. O amor – o mais sublime de todos, na minha opinião – é o mais maltratado de uns tempos pra cá.
Amar, diferente do que muitos fingem pensar, não é qualquer coisa. Não é gostar demais, estar gamado ou perdidamente apaixonado. Amar é muito mais do que isso. O amor não é um sentimento que qualquer um sente por qualquer um. Eu, por exemplo, só sinto amor de fato por meus pais. Eles, por sua vez, sentem por mim e entre si – do contrário não estariam há quase 30 anos tratando-se como recém-casados. E por aí vai. Hoje, vejo casais que se conheceram há dois ou três meses dizendo a tal frase “eu te amo” por toda a parte. Vejo amigos/amigas trocando confidências frívolas via Orkut e MSN sempre complementadas com um “eu te amo”.
Mas nada é mais falso do que isso. Quem fala “eu te amo” como se falasse “bom dia” na verdade não ama ninguém. Engana, aos outros e a si próprio. Não existe amor que não seja construído com o tempo. Essas coisas de “à primeira vista” cabem muito bem aos clichês cinematográficos ou à paixões que – com o tempo – podem até virar amor. Antigamente, os casais demoravam meses (até anos!) para dizer um “eu te amo”. Hoje, bastam duas ou três semanas. É a inversão de uma das únicas ordens que não poderia ser alterada, a do maior sentimento de todos.
Essa situação toda em muito me lembra os tempos em que eu frequentava missas. Em certo momento, o padre ordenava que todos nós abraçasse-mo-nos (tá certo isso?) uns aos outros e que dissessemos um sorridente “eu te amo” aos nossos desconhecidos irmãos. Todo mundo fazia, claro, mas num bater de ombros um ouvido mais atento era capaz de detectar – não raro – algo do tipo “vai a merda, seu trouxa”, vindo do recém-abraçado. Tudo falso, tudo “pseudo”. Tão falso e tão “pseudo” (desculpem a redundância) quanto os “te amo” deixados em depoimentos, scraps e frases de messenger, quase pequenas crônicas de um amor que não tarda a acabar, afinal, nem começou – nem existiu! Eu te amo é o cacete – já diria a sábia Dercy Gonçalves. Amor é a puta-que-o-pariu, complementaria.
Quem muita ama gratuitamente, muito se decepciona. E se você – que aguentou ler até aqui – está pensando em dizer à seu/sua namorado/namorada “eu te amo”, pense melhor. Passe alguns meses dizendo a ele/ela “eu te adoro”, “eu te gosto”, “eu te quero”. Primeiro, convença a você mesmo que ama aquela pessoa. Aí sim, no dia em que você disser “eu te amo”, verá o gostinho que teve esta “longa” espera.
Mas não maltratem mais o coitadinho do amor. Por favor!
Chico Cougo
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