Gostei mto dessa "homenagem" e quis compartilhar.....
"Hoje quero falar de uma pessoa que, independente de ter tido com ela um casamento feliz, de ter sido aluno, de ter sido parceiro, de ter aprendido/ensinado mais de dois terços do que sou hoje, é uma pessoa que dispensa elogios. Ela vive muito bem, obrigada, sem eles. Ela não carece de puxassaquismo – aliás, se incomoda com ele; ela não produz “seguidores”. E, por isso mesmo, não distribui elogios. É até parcimoniosa demais o uso dos elogios porque sabe a força que eles têm para estragar discípulos.
Ela é, em si, uma Mestra. E Mestres não carecem de aplausos porque a consciência de si mesmos é bastante para assegurar, a eles, a mão certa no caminho. Mestres que produzem seguidores são apenas egos mal alimentados. (Bom, o que eu penso sobre Mestres é uma coisa que a mim importa. Não me pertence ficar induzindo pessoas a pensar assim ou assado.)
Estou falando de Norma Lillia. Norma Lillia é Mestra, em todos os sentidos. Ela o é na arte de formar bailarinos... e formar bailarinos não é meramente ensinar a subir nas pontas e rodar 303 Fouettés rond de jambe en tournant. É muito outra coisa. Vai muito, mas muito além disso. Vai além de qualquer horizonte definido. Ela também ensina isso, mas não só isso! Ensina a disciplina de doar-se e entregar-se à técnica que vai estar a serviço da libertação da alma do artista. E isso ela faz por ser assim: o corpo a serviço de uma expressão e essa expressão, por sua vez, regida pela alma.
Uma vez disseram – e bem – que Norma Lillia não se apega a seus alunos pra não sofrer quando os perder. Sim, há uma verdade nisso, embora eu presuma, pelo meu convívio com ela, que, mais do que isso, ela não se apega porque o apego, em si, é castrador e artista castrado é alma engaiolada. Fica mirando a liberdade que está no fio do horizonte, mais nada. Norma Lillia não se apega porque os mestres sabem que é preciso desconsiderar a paixão pelo sujeito em prol da paixão pelo objetivo. E o objetivo dessa Mestra é alguma coisa fluída, etérea (no sentido de éter, mesmo), atávica, antiga, ancestral humana que é a expressão do interno, do de dentro.
Quando o bailarino está formado e a alma de Norma entende que é preciso desfazer o último nó, Norma não fica na porta da casa se despedindo dele... ela entra para o interior da casa e se disfarça entre móveis e paredes porque sabe muito que se ficar na porta, acenando adeuses, o recém libertado vai ter vontade de ficar, de voltar, de não sair do ninho. Ela sabe que isso pode interromper como guilhotina a viagem do pássaro para aquele mundo fluido da expressão interna.
As grandes figuras que Norma produziu como artistas andam pelo mundo, em brilhos e sucessos. Eles raramente escrevem uma carta ou um cartão de felicitação por aniversário ou boas festas. Eles têm a própria vida para cuidar. Norma não se ressente disso e, para muitos, parece que é desinteresse... ai, que pouca compreensão de Vida têm esses! Para Norma apenas consta que o papel de Mestra que coube a ela foi desempenhado como deveria. Isso é ser Mestre. O mestre verdadeiro é, sempre, um solitário. É o Eremita que descobriu que a Luz não está em nenhum lugar fora dele.
Se alguém não consegue entender isso, desculpe-me, mas está na contramão do caminho e que continue produzindo acólitos que o amparem na caminhada. Se necessita de báculo é porque é coxo, tolhido das pernas... nada contra, entendam, a humanidade precisa dos coxos também, da mesma forma que necessitas dos mestres.
Se eu fosse convidado a fazer uma sugestão aos aprendizes dela (não fui, mas como ariano, eu tenho que cumprir o meu destino de abelhudo) eu apenas diria que tivessem por ela respeito.
E respeito, senhores, é apenas reconhecimento. O respeito verdadeiro não carece de admiração, não carece de elogios, não carece de reverência, não carece de nada além de reconhecimento.
Respeito leva, automaticamente à emulação e a emulação é grau fundamental para auto-conhecimento; capacidade de elaboração dos talentos próprios e organização para ações pessoais.
E não se esqueçam... não precisam fazer cartões de felicitações com mensagens super adjetivadas. Almas não precisam da boca para falar, nem do cérebro para entender.
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