quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Liberdade molhada - By Curta Crônicas








Rio de Janeiro, 03 de novembro de 2011

Quando ouço alguém dizer que tem vontade de morar sozinho, tento me controlar para não desestimulá-lo expondo os problemas que essa pseudo-liberdade carrega. Encontro-me nessa situação há dois anos e um dia (desde 1/11/09). No início tudo é maravilha até que chega o momento em que você se vê obrigado a sair de casa para comprar pano de prato. Aí sim, que a vida começa de verdade.

Apesar de ter apenas setecentos e trinta e um dias de dona de casa, posso garantir a você que meus problemas são inumeráveis. Coisas como pregos soltos na fechadura da porta, lâmpadas queimadas, suporte do espelho quebrado e trilhos da cortina com defeito, fazem com que eu me arrependa de ter desejado viver assim, só.

Hoje mesmo eu quis, no fundo do meu coração, ainda ter pouca idade para viver sob os cuidados dos meus pais. Já passara da meia noite quando resolvi lavar roupa. Tenho hábitos noturnos e sempre achei que o melhor horário para realizar qualquer atividade é na madrugada. Ao ligar a máquina, percebi um vazamento no registro. Tentei apertá-lo, mas em vão. Não somente por minha pouca força, mas ele estava com problema e, quanto mais eu tentava consertá-lo, maior era o volume da água que saía. Comecei a entrar em desespero, apelei pro registro geral, mas sem sucesso.

Sentei no chão da cozinha pensando em uma maneira de solucionar essa situação. Contudo, fracassei. Nenhum dos conceitos de modelagem que eu adquirira me foi útil. Para o meu vazamento de água, não existiam algoritmos ótimos! Liguei para a portaria, o vigia atendeu e pediu pra eu fechar o registro. “Moço, mas eu já tentei fazer isso.”. Perguntou se a água que estava vazando era muita mesmo ou era exagero meu. Brincar com uma coisa dessa, quase uma hora da manhã, definitivamente não era algo que me apetecia! O convenci da dimensão do caso, mas como estava sozinho, teve que acordar o porteiro que minutos depois chegou ao meu apartamento.

O problema era grande demais e impossível de ser resolvido na madrugada. “E agora, vai ficar vazando assim a noite inteira?”, perguntei enquanto imaginava o que enfrentaria: coisas como reunião de condomínio para me proibir de fazer minhas atividades domésticas rotineiras depois do horário comercial. O porteiro me explicou que teria que subir até o último andar, onde desligaria o registro do prédio, depois voltaria com um tampão que impediria o vazamento e depois liberaria a água. No dia seguinte eu teria que comprar a peça nova e, então, ele voltaria pra consertar. Me deu canseira só de ouvir. Coitado!

Solução temporária proposta e resolvida antes das duas da manhã. Depois que ele saiu, já mais aliviada, peguei um rodo e um pano de chão para limpar a inundação que restara. Mas aí aconteceu um problema pior...

Quebrei minha unha do dedinho, bem na metade. Não sei se doeu mais a dor da unha ao desprender-se da carne ou se foi o pesar por tê-la estragado apenas dois dias depois de tê-la feito. Esqueci-me do problema com a água, larguei o rodo e o pano no mesmo lugar e resolvi dormir.

A propósito, espero que o banheiro cresça, torne-se independente e se seque sozinho! Já tenho problemas demais cuidando de mim mesma.


Joyce Figueiró



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