terça-feira, 1 de novembro de 2011

Este artigo foi escrito por um grande e velho amigo meu e de minha família...


Libertação dos Oprimidos
Publicado em 01/11/2011 por Instituto Boal
LIBERTAÇÃO DOS OPRIMIDOS


por Adaílton Medeiros


“Eu agradeço a essa plateia pela aula de cidadania que eu tive aqui, hoje.” Foi assim que o cineasta Zelito Viana encerrou o Programa Diálogos Com o Cinema, no Ponto Cine, no último sábado, 22/10. O filme exibido: Boal, vencedor do Margarida de Prata.


Como se não bastasse uma semana cheia de surpresas: Ponto Cine como destaque em artigo da Revista ESPM, da Escola Superior de Propaganda e Marketing, e em matéria do Globo Zona Norte. E, ainda, a repercussão da participação nas mesas do Seminário Novas Perspectivas para o Cinema Brasileiro, no 44º Festival de Brasília e da Audiência Pública da Assembléia Legislativa para a discussão de Políticas para o desenvolvimento do Circuito Exibidor Cinematográfico do RJ. Estávamos curtindo o gostinho de ter contribuído da construção, melhor, do acabamento do grande vencedor do Festival do Rio, o Filme “A hora e a vez de Augusto Matraga”, de Vinícius Coimbra.


O teste de público do primeiro longa de Vinícius foi realizado no Ponto Cine e, lógico, o mais novo diretor consagrado pelo maior Festival de Cinema da América Latina recebeu “piruadas” de todos os tipos e tamanhos. Afinal suburbano gosta de meter o bedelho em tudo, é metido a sabido e adora ocupar espaço, agora então que a tal “nova classe média” entrou na moda nos achamos. A prova está lá nos crédidos do filme, estamos todos orgulhos e não cabemos na nossa respiração.


Mas se fosse só isso. Para completar quem aparece para assistir ao “Boal”: Dona Maria Apareceida. Quem é a Dona Maria? Uma já tarimbada frequentadora do Ponto Cine, uma senhora comum de 75 anos. Quer dizer: comum até antes do Festival. Agora, Aparecida é uma estrela, talvez a maior do Ponto Cine.


Um dia a anônima Maria, ao ler um anúncio de classificados convocando pessoas que quisessem cantar uma música que marcou a sua vida, resolveu ligar para a produção de um filme. Mesmo descrente, foi chamada e, “de um dia para o outro”, como diz, ficou famosa. Aparecida é uma das personagens mais forte de “Canções”, de Eduardo Coutinho, vencedor de Melhor Documentário do Festival do Rio.


A nova estrela foi anunciada na abertura do evento, veio ao palco falar com a plateia e, como não podia deixar de ser, cantou. Foi aplaudida de pé e cumprimentada por todos, após a sessão.


E o Boal, onde entra nisso tudo? Na síntese. Fernando Pessoa dizia que Educação é erudição e Cultura, síntese. O Filme de Zelito Viana não é só uma homenagem a um dos maiores nomes da Cultura Brasileira, ou melhor, da Cultura Sem Fronteira, porque Boal foi um cidadão do mundo.


Antes de ser uma homenagem é um pito, um puxão de orelha: – como querer ser uma nação grandiosa se tratamos tão mal os nossos herois, condenando-os quase ao total anonimato?


Não sei se “Canções” entrará em cartaz no Ponto Cine. Torço para que sim, se não somente os privilegiados do bairro e de seu entorno, que estiveram na manhã de sábado no Cinema, vão ficar sabendo do feito da Dona Maria Aparecida.


Uma coisa instintivamente eu posso afirmar: hoje, Boal está para o conhecimento dos brasileiros, assim como a nossa cantora Maria está para Guadalupe. Precisamos virar o jogo. Zelito, obrigado. Sábado foi um dia de oprimidos sobre opressores. Foi um dia de libertação, de síntese. Um dia de suburbanos vencedores.

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