sexta-feira, 23 de setembro de 2011


Timing é o trem certo passando em velocidade inédita, parando inexplicavelmente, fazendo um convite irrecusável, mudando destino, caminho, olhar. Timing é entrar ou não no trem e redesenhar o futuro....
Timing é tudo; é a possibilidade do milagre; a fatalidade da tragédia; é o rastro da felicidade ou do desastre...


Timing é tudo

É a sincronia das infinitas possibilidades e das remotas probabilidades, do acaso, do milagre e do desastre.

É a extravagância do big bang; a microscópica plenitude da concepção; o átimo de eternidade onde se dão os encontros.

Timing é a proteção do acaso; a centelha da revelação; o vislumbre do abismo; a conspiração cósmica, o deboche do diabo, o sorriso dos deuses.

Timing é olho no olho, o encontro com o estranho, o sinal aberto ou fechado, o caminho depois. É o sopro que mesmo invisível é percebido como ventania; é o leve ondular do sangue na veia; o arrepio na pele; o calor no sexo.

Timing é ausência ou suspensão, ou quem sabe apoteose do tempo que para por uma fração impossível que só a intuição ousa sentir. É a supressão da marcha implacável, é a recriação, é o breque da bateria, é o suspiro e não a respiração, é a breve lembrança do sonho antes que dele se esqueça, é o despertar, qualquer despertar, o sorriso da sorte, o voo fugidio da esperança, é flash, relâmpago, susto.

Timing é o contratempo do tempo, sutil, imperceptível, terrível e fortuito; é a cauda do cometa, o eclipse, a explosão; é pororoca, erupção.

Timing é o trem certo passando em velocidade inédita, parando inexplicavelmente, fazendo um convite irrecusável, mudando destino, caminho, olhar. Timing é entrar ou não no trem e redesenhar o futuro.

Timing é o fugaz que se materializa; é o brilho no olho do sábio, o luzir do ouro do tolo, o sopro que apaga a vela, o flagrante da traição. É o bote da víbora, a rapidez do antídoto. 

Timing é tudo; é a possibilidade do milagre; a fatalidade da tragédia; é o rastro da felicidade ou do desastre; é o que se desnuda ou o que se veda entre o piscar de olhos e a revelação ou a cegueira; é o deleite do toque ou a esterilidade da separação; o estorvo da palavra ou o conforto do silêncio. É o leque de escolhas, decisões, ímpetos, desvios, sins e nãos, que se sucedem inesgotavelmente enquanto o tempo pulsa e a vida segue inclemente seu curso. 

Timing é o ponto antes da ponte ou do precipício; é a escolha entre o voo e a vida; entre o abismo e a sanidade.

Timing é fruição, fluidez, pulsação; é inclemência e danação; É permissão, contentamento, sincronicidade; é impulso criativo, intuição, fé e punição; desacerto e desatino; entrega e violação.

Timing é a bala perdida no peito desavisado; é o raio que parte; a curva fatal, o gol, a casca de banana, o telefone no meio da noite, o delírio do terrorista, o êxtase do santo. O laço, o passo, o descompasso.
É tudo o que acontece ou não, perceptível ou não, que muda o curso da sorte, do sangue, do riso, antecipando amores, abandonos, descobertas, criações, fatos.

É o fatal, o banal, o cômico, o romântico, o prosaico; o tombo na rua, o bolo solado, o pivete no farol, a pane no motor, o tumor, o vírus oportunista, o verso perfeito. 

Não nascemos nem morremos sem timing. Timing não é véspera nem adiamento, é o presente capturado.

É você e a humanidade, no meio dos acontecimentos, de passagem ou não, respirando o hálito de Deus, ouvindo a roda da fortuna ranger, o rufar dos tambores dos homens, o soar das trombetas dos anjos. É você e a humanidade, no meio da roda, consciente ou não, testemunhando a fragilidade, a inexorabilidade, o inevitável.

Timing é a vida e tudo o que acontece, estando você atento ou não, entre diminutas eternidades, vírgulas, exclamações e reticências do texto cósmico da breve história de todos nós.

Hilda Lucas


By Magda Ripke Donin in Facebook


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